segunda-feira, 19 de abril de 2010

Avós


Durante muitos anos a pessoa de quem mais gostava no mundo era a minha avó materna, lembro-me perfeitamente de ser criança pequena, e pensar neste assunto: "De quem gosto mais?" e de ficar triste por a resposta não ser "dos meus pais", mas a verdade é que a minha predileção ia para a minha avó, a quem chamo mãe... e ficava felicissíma sempre que me deixavam dormir na sua casa, numa caminha improvisada feita de cobertores no chão, do lado em que ela dormia.
E porquê? Não sei ao certo. talvez porque tivesse tempo para mim, apesar de todos os afazeres que tinha, incluíndo cuidar de um filho pequeno com leucemia, alguns anos mais velho do que eu. Lembro-me perfeitamente de brigarmos e competirmos pelo seu colo, e de ela, carinhosamente nos dizer que era suficiente para os dois. Recordo-me, como se tivesse sido ontem, de cada um de nós sentado numa das suas pernas, a ver televisão ou a cantar uma canção.
Talvez fosse também por ter mais paciência do que os meus pais, e ter a sabedoria de quem já criou outros filhos, e já sabe como são as crianças. Não me consigo lembrar de me ter batido uma única vez que fosse; E agora que estou tentando relembrar, é quase impossivel lembrar-me dela a brigar ou a ralhar comigo. De certeza que o fez, não digo o contrário, mas se o fez, fez com a meiguiçe de uma avó, e não com o descontrolo de uma mãe que perdeu a paciência.
Hoje, eu tenho 30 anos, e ela tem 76. Hoje eu sou mãe, ela é mãe, avó, bisavó. E continuo a ama-la como dantes, agora sem estabelecer preferências, porque comigo cresceu o meu coração, e não preciso gostar mais de um do que doutro, gosto, amo, e não sinto necessidade de colocar por ordem de amor.
Hoje, também tenho pena da minha filha não poder ter uma avó como a minha. A distância torna-o complicado, mas não o impede... e sei que do outro lado do oceano, está uma vontade tão grande ou maior do que a minha, e tenho esperança que um dia, talvez a Francisca também se pergunte " de quem gosto mais", e responda "da minha avó". Mas...talvez eu não deva ficar triste, pelo contrário, e deva pensar que a Francisca tem uma avó e uma bisavó sempre ansiosas por estar com ela, que contam os dias, apesar da idade, apesar da distância...porque apesar de tudo, o mais importante, talvez seja a vontade de ver crescer e de participar na vida dos filhos dos nossos filhos!

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